9.12.08

Meu amor, não se atrase na volta.

É tanta coisa pra te dizer antes de você ir embora. Coisas, essas, que se negam a existir na forma de palavra contida em letras e adoram se fantasiar de metáforas, o que (vamos combinar) às vezes é muito chato. Essas mesmas coisinhas, tão enormes, surgem muito nítidas durante nossas pequenas epifanias diárias. Talvez isso seja coisa de libriano doidinho, que vive com a cabeça cheia de idéias, mas você melhor do que ninguém sabe como isso se dá em nós.

Estive pensando: é bom eu dizer mesmo, e logo, não quero correr o risco de você voltar pro lado de lá sem saber. São coisas que precisam existir do lado de fora. Mas será que você vai entender? Existir junto é mais fácil, mas entender, po***, muito complicado. Muitas dessas coisas entaladas, (você já deve ter percebido) eu aproveito para declamar shakespearianamente em silêncio quando troco minhas pernas pelas tuas. Sabe quando te olho com uma vontade de me explodir em você? Sabe o que é isso? Um grito afônico de amor. Eu sei que isso não é o suficiente, não diz tudo. Jamais serei capaz um dia de dizer tudo. Mesmo assim, como qualquer um que ama, quero tentar.

Eu tenho tanta coisa linda pra te falar, meu amor. É tão difícil organizar em voz alta, mas existem pessoas maravilhosas que fazem o favor de falar por nós. Você mesmo já usou o seu amigo Chico pra me dizer pela primeira vez: eu te amo. Ah, e foi um eu te amo tão bonitinho, tão cheio de vontade de sair correndo em direção ao meu ouvido. Um eu te amo que precisava ser vivido, antes que nós nos enganássemos com pensamentos de “e-se-talvez-mas-será-perhaps-perhaps-perhaps”. O mais lindo é que foi um eu te amo que não precisou pronunciar cada letra da sentença, mas que soube existir ali no espaço preenchido de música entre você e eu.

Meu bem, hoje, com o auxílio das palavras de outros, preciso te dizer tudinho, munida da urgência que só os que amam demais conhecem. Escuta só: eu te amo muito além dessas palavras, ainda que seja através delas que eu aqui me defenda quando digo que te amo. Eu te amo pelas tuas loucuras todas, pelas tuas cicatrizes e pelos teus sonhos. Eu te amo pela tua essência, meu lindo, mesmo quando fora de si. Eu te amo pelo que você é, pelo que você foi, pelo que será e até pelo que poderia ter sido. Eu te amo desde os teus pés até o que te escapa. Eu te amo pelas futuras rugas. Eu te amo nas horas infernais e na vida sem tempo. Eu te amo até mesmo quando o próprio amor vacila.

Pronto, agora você já sabe.

23.10.08

MON FOM

[A história que segue é verídica]
[Já as dúvidas são só dúvidas]
[E os votos, sinceros]

Da noite para o dia, nasceu na minha cama um cogumelo. Vermelho, de pintinhas brancas, olhinhos escuros comoventes e cheiro doce-salgado de mar. Já surgiu no meu quarto cheio de vontades: derrubando parede, abrindo as janelas, mexendo nos porta-retratos e, antes que eu esqueça, crescendo numa velocidade jamais presenciada no reino fungi. Agora, já grande, deu para pular. Feito cAnGuRu. Ele vai, de um salto só, da cama pra minha mesa, de lá pro banheiro, pra cozinha, pra piscina, pro carro, rua, trabalho, cabeleireiro, esquina, sinal, fila, som, ar, vento, pensamento. E tem mais, toda noite, antes de dormir, ele chega bem perto com aquela vozinha mansa dele e reconta algumas poucas histórias. O repertório não é vasto, mas é sempre um novo ritmo, cada vez mais no compasso. Ainda não viveu muita coisa, "mas foi tanto", diz ele e explica de forma genial: "só eu sei o quanto". Fico imaginando no que seu sorriso - que evitarei descrever para não soar ensanecida - irá tornar-se depois de pular pelo mundo, depois de saltitar por calçadas coloridas, depois da distância e da verdade metálica do tempo.

Mon chéri, espero que saiba que não pode retornar àquela cena da abertura, afinal há sempre algo no mEIo. C'est la vie. Vou torcer, daqui, para que entre aqui e aí só exista material para uma história que dispense créditos finais convencionais. Afinal, muito chato essa coisa de ser sempre igual. Dit moi, mon amour, qu'est-ce que tu pense?

2.9.08

Alice, de mala e cuia.

Antes de tudo, era apenas eu. Ia, partia. Depois de uma pilha de dias, meses, palavras, coisas e causos, agora é a vez dele, vez de ir, de rir, de vez, de uma só vez. Gozar o ar do novo, inventado. Um beijo, meu querido, meu coração fica comigo, partido. Ainda assim, sigo fingindo não te entender, fingindo que não sei, mesmo quando a vontade de te apertar me soterra na dor de sempre, dor de partida, repartida em mil momentos dispersos, mas ainda assim sentida. Lá no fundo, como alguém que sabe o que está perdendo, de vez, outra vez.

Dá vontade de chorar pequeno.

10.6.08

Je ne suis pas Anaïs Nin.


Tenho a fidelidade em alta conta. A fidelidade é uma das perfeições. O amor é um conflito. De qualquer modo, estou farta de fantasias e emoções. Não mencione a palavra amor. Deixe o amor fora disso. Não tento ser a femme fatale. É inútil. Não quero mais ouvir falar de anjos, almas, amor, chega de profundidade. É fácil amar e existem muitas maneiras de fazê-lo. Não tenho mais o medo de amar demais. Só me interesso pelo prazer. Além disso, o amor nunca morre de morte natural. Morre porque nós não sabemos reabastecer sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições. Morre de doença e das feridas; morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho.

* Anaïs Nin

1.6.08

Monografia. Uhu!


- Rafa, bora beber?
- Não posso, Pedrinho.
- Pq não, sua chata véia?
- Tenho que escrever uma monografia em 20 dias.
- Que merda, hein?
- É.

(wish me luck, y'all)

28.5.08

Carta de Amor.

Fortaleza, algum dia de Maio de 2008.

Meu querido,
Lembre sempre dos dias felizes, só eles valem no futuro.
Hoje, é tudo diferente. Aquele som grave é confortante e o barulho agudo das ruas, completamente inocente. Já eu, no meio, culpada. Nem adianta falar que está tudo bem, que passou. Sei que é mentira e sei muito bem que a culpa é minha. Sou uma coisa. Na verdade, uma mistura de coisas, que acha bonito ser feio, ser sujo e que depois sofre, pensa, raciocina horrores. O racional é ir lá, é saber, resolver logo tudo, mas não suporto a dor de imaginar o que não quero. A escuridão é aconchegante, feliz, incoerente. O preto. Vazio e cheio. No escuro, posso brincar de me esconder, sem o inconveniente de ser descoberta. Aqui, só eu posso me tocar, me enxergar, me maltratar, me existir. Mas aí existe você. Comigo. E eu prefiro sentir o sol incinerar minha pele a imaginar que posso ser o motivo de seu pesar. Não está tudo bem, não insista. Eu sei bem onde pequei. Eu sei, estou roubando o teu mundo, acabando com teus músculos, enfraquecendo tua língua, arrancando teus dentes, sugando órgão inteiros, cuspindo pedras. Vai embora, corre, voa, grita e me fala a verdade. Grita e me diz com altivez: Não, não te quero mais, não te amo! Só assim posso te assistir indo embora tranquila. Só peço que me permita guardar o teu sorriso na gaveta e teus olhos no porta-luvas, um pouco de tudo que eu sempre precisei, você. Nunca soube lidar com isso de você ser, de um jeito só seu, tudo. De novo, medo. Estou jogada no asfalto, esperando a dor, a pressão, o impacto. Preciso ser reanimada, trazida de volta ao mundo dos terrenos, mas chega! Essa não é sua função. Não me permita mais, me dê um limite, me jogue na rua, que é o meu lugar, junto com coisas quebradas e com comida podre. Estou desmantelada, fedida, nojenta, vermes habitam meu corpo e serpentes, o meu cabelo. Sou uma coisa indesejada, arrogante, feia e quase infeliz. E nem pense em me oferecer um cobertor! O frio é meu aliado, adormece.

Com muito carinho,
Coisa Menina.

"Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente."
Drummond

2.5.08

Desatando nós.

…you want her, you need her
and yet you don't believe her when
she says her love is dead
you think she needs you…


Ela conta, ele escuta.


Sabe? A manhã, até passa. Já a tarde, essa insiste na qualidade de ser rastejante. São horas na cama, alguns minutos em pé. É uma falta de vontade de comida, de piscina, de palavra. Uma dor de cabeça que diverte-se em perseguir. A verdade é que dói demais olhar e não enxergar nenhum sinal da minha presença no seu olhar, que era meu. Dói mais ainda ouvir a máquina de lavar funcionando, mas saber que não posso esperar a camisa quentinha e com cheiro de amaciante chegando no meu quarto, flutuando em direção à cama, para só então ser dobrada do jeito certo.

A tarde chega ao fim, aquela luz toda me abandona e, finalmente, a minha chance de falar aterrissa. Mesmo assim, eu, nada, calada, lá, babaca. Não é falta de vontade, como você adora insinuar. As palavras ficam rodando na minha boca, brincando de formar sentenças, enquanto eu vou cortando e colando, aí acabo transformando tudo em um grande emaranhado de falta de significado - para os outros, para você.

Ela tenta falar, mas parece tudo tão fantasiado de emoção. Fake!

Tudo que eu queria era te abraçar. Eu te disse que queria você por perto? Eu falei que quando estou com você quero continuar lá? Que me sinto completa quando sinto sua mão na minha?

Ele discursa, fala, fala, mas não a responde.
Já ela, responde, mas não o agrada. Ela nunca o agrada.


Não quero mesmo, é verdade, não gosto muito, mas posso esperar. Tenho algum tempo. Sei que andei por lugares confusos, mas não continue insistindo em me enlouquecer ainda mais. Basta. Deixa de lado essa mania feia. Eu estou pronta para a simplicidade. Topas o simples comigo? Vamos lá, vale a pena. Algumas coisas são o que são, como o que foi, foi e foi mesmo. Não esqueça que eu estava lá, sentada do seu lado, enquanto o mundo todo passava do outro. Eu querendo apenas continuar naquela cadeira. Você querendo me tocar e me ver chorar como nunca, um choro soluçado. Essa sua curiosidade mórbida é um lixo e esse seu desejo latente, mas visível nos seus traquejos alterados, perturbados, é doentio. Senti sua mão. Não só uma, mas duas vezes. Apenas por isso, vou continuar imaginando que, pelo menos durante aquele pedaço pequeno de tempo, você também quis mais uma vez a roupa limpa, cheirosa, o apartamento velho, a música nova e aquela aliança de antes.

Ele e ela decidem trocar de bar, de cidade, de mãos e de sonhos.

29.4.08

Fiasco no campo.


Programei o despertador para as oito horas da manhã. Ia deitar na piscina com meu menor biquíni e pegar aquele bronze, mas, claro, aquele que me é permitido – o quase nada e só até as dez e meia. Acordo, abro a cortina e um dia totalmente nublado me é agraciado. Não tinha aula hoje, era pra ser meu dia em Ibiza, mas que nada. Foi caso menina Isabella no programa da modelo apresentadora e especial Westlife na rede jovem de cara e de coração.

28.4.08

Sobre o tempo em que eu era mais legal.

Eu sei bem quando ando pro lado errado. Primeiro sintoma: solidão. O problema é que eu não sei me sentir sozinha. Aí faço logo beicinho, choramingo, mas não conserto o erro, insisto na merda, até explodir no liquidificador dos outros. Incrível, me meto até na cozinha do vizinho (e da vizinha). Aí eu fico doente, cheia de alergia, toda papocada, com dor de barriga e fumante. Tô sentindo falta dos meus amigos, de quando eles gostavam mais de mim, de quando me ligavam mais, de quando me queriam bem sem obrigação. Mas nessa época eu era bacana, gente fina, reconheço. Será que ainda tenho fichinhas?

Amiga, quarta levo o dvd, prometo.
Amigo, não repito mais uma besteira daquelas, juro.