23.10.08

MON FOM

[A história que segue é verídica]
[Já as dúvidas são só dúvidas]
[E os votos, sinceros]

Da noite para o dia, nasceu na minha cama um cogumelo. Vermelho, de pintinhas brancas, olhinhos escuros comoventes e cheiro doce-salgado de mar. Já surgiu no meu quarto cheio de vontades: derrubando parede, abrindo as janelas, mexendo nos porta-retratos e, antes que eu esqueça, crescendo numa velocidade jamais presenciada no reino fungi. Agora, já grande, deu para pular. Feito cAnGuRu. Ele vai, de um salto só, da cama pra minha mesa, de lá pro banheiro, pra cozinha, pra piscina, pro carro, rua, trabalho, cabeleireiro, esquina, sinal, fila, som, ar, vento, pensamento. E tem mais, toda noite, antes de dormir, ele chega bem perto com aquela vozinha mansa dele e reconta algumas poucas histórias. O repertório não é vasto, mas é sempre um novo ritmo, cada vez mais no compasso. Ainda não viveu muita coisa, "mas foi tanto", diz ele e explica de forma genial: "só eu sei o quanto". Fico imaginando no que seu sorriso - que evitarei descrever para não soar ensanecida - irá tornar-se depois de pular pelo mundo, depois de saltitar por calçadas coloridas, depois da distância e da verdade metálica do tempo.

Mon chéri, espero que saiba que não pode retornar àquela cena da abertura, afinal há sempre algo no mEIo. C'est la vie. Vou torcer, daqui, para que entre aqui e aí só exista material para uma história que dispense créditos finais convencionais. Afinal, muito chato essa coisa de ser sempre igual. Dit moi, mon amour, qu'est-ce que tu pense?