20.8.06

Shoreline 7/4

Passei o dia inteiro andando pelas ruazinhas da cidade do Porto. Ruazinhas estreitas, de pedrinhas. Prédios velhos, de cores conflitantes, amontoados, sujos e com azulejos quebrados. Um charme. E o tempo todo faltava aquela pessoa do meu lado, faltava você. Pra que eu pudesse apontar pra qualquer besteira que me interessasse e ser ouvida com todo carinho possível nesse mundo. Faltava você pra me abraçar na hora certa e me dar um beijo no momento perfeito. À noite fui jantar na Ribeira, à beira do rio Douro, as luzes azuis e vermelhas dos bares refletidas na água. Pessoas do mundo inteiro caminhando sem pressa de chegar a lugar algum, apenas com a vontade implícita de ser somente o que o momento pedia. Mas a minha sensação de incompletude diurna persistia, ainda faltava você. Você que é tão bom em contar histórias, você que é tão bom em me amar. Voltamos pro hotel depois do jantar, conversei com minha mãe um pouco e deixei uma lágrima escapar, daquelas que eu guardo com tanta dificuldade. Ela perguntou o que era e expliquei que era a dor da falta de um pedaço meu. Ela dormiu logo em seguida, depois de tentar me consolar dizendo que o tempo passa rápido, apesar de o minuto aqui continuar tendo 60 segundos. Liguei a televisão pra me fazer um pouco de companhia e lá estava você na forma de um festival português. Você está em tudo, em todo lugar. Quando liguei a televisão estava começando a tocar a nossa banda, porque nós temos uma banda e não apenas uma música e eles estavam tocando aquela música que só por causa de você eu sei que o andamento é sete por quatro. Você me explicou com toda a paciência de quem ama o que era um andamento e como funcionava o sete por quatro. Explicou também como os americanos não sabem o que é um quatro por dois e chamam de quatro por quatro slow. Depois disso, as lágrimas que eu estava contendo com tanta precaução fluíram aos poucos e compassadas seguindo o ritmo daquela música que só me lembra você.