24.12.11

dois mil e onze

ô saudade de olhar pra fora e enxergar pra dentro

3.11.11

em desencanto

quando desanda a desencantar
parece que não tem mais quem segure

ou será que uma flor e um beijo obram milagres?

24.10.11

Qual é o seu limite?

É sempre importante repensar nossos "até ondes" e "até quandos". Afinal, precisamos reconhecer quando alcançamos a beirada do nosso aceitável. Pro bem da energia vital de cada um.

5.10.11

ô coisa frágil é coração.

hoje, eu fiquei triste. triste de marré deci. minha mãe chegou e segurou meu coração como quem segura passarinho caído.

obrigada, mãe. hoje, já voltei a voar sozinha. 

27.7.11

Atenção, amor, cuidado.

Bem que ele dizia: "viver é muito perigoso".

Eu acho lindo esse jeito do Rosa de falar, mas custei a entender a dimensão desse breve dizer. Acabei aprendendo na marra mesmo.

Algumas palavras minhas machucaram profundamente alguém a quem eu quero muito bem. Fui a grande responsável por abrir uma ferida que tem custado a sarar. Errei, desapontei, dancei. Não fui tão atenta quanto deveria, tratei como trivial coisas que eram, na verdade, das mais importantes. Aqui, nem importa como ou porquê, não tem explicação ou detalhe que chegue. Todo dia, faço torcida para que o tempo seja generoso e não deixe uma cicatriz muito feia no que antes era promessa de uma bonita amizade.

Repito: "viver é muito perigoso". É preciso muito cuidado, sempre. Sentimento é coisa delicada e perder alguém é uma dor aguda, do tipo que o olho vê e o corpo inteiro sente. E eu sinto tanta falta dela. Do carinho, da companhia, de ir fazer a unha e conversar miolo de pote, de passear, falar besteira, falar de coisa séria, escutar, contar, estar lá. Ainda vou preparar a minha voz mais sincera e dizer assim com meu coração falando em voz alta: "sei que hoje é difícil de acreditar, mas se precisar, pode contar comigo, sempre, para qualquer coisa, estarei aqui esperando de braços abertos, doida pra te dar um abraço apertado".

Independente do desenlace:
obrigada por ter me ensinado uma grande lição.

26.7.11

Está lançado o desafio.

Acabei de chegar em casa depois da minha segunda sessão de análise. Voltei com a mente alongada no tempo e no espaço, mas ainda Perdidinha da Silva. Esta tarde, fiz um esforço terrível e declarei coisas que eu jamais me imaginei ouvir falando em voz alta, ainda mais para aquela senhora fria, distante, que não pega na minha mão e mal me deseja um “boa tarde”. Ela fica lá, no extremo oposto da sala, impassível, semblante imutável, sentada na mesma posição durante uma hora sem fim, com aquela roupa meio cafona, escutando tudo, anotando coisas mil. Enquanto eu, no meu canto, me rasgo em palavras, transbordo sangue e tatuo tudo quanto é sentimento na testa, desde os mais dolorosos até os mais proibidos. Estou literalmente me virando ao avesso e espero finalmente chegar lá!

Onde? Isso é o que eu ainda não sei.   

14.6.11

sobre meu abuso

Ando tão sem tema, tão sem drama. Parece mesmo que um certo sofrimento alimenta minha rotina de escrita. Nessas horas, só lembro do Proust, coitado, que passou anos trancafiado dentro de casa, choromingando em busca do tempo perdido, morreu e deu no que deu, uma obra prima. Enquanto hoje, os que vivem de romance, céu azul e palestras milionárias só saem em paperback, nada de folhas com bordas douradas ou uma lombadinha quadrada que seja.   

Insisti! Estava obstinada a não desistir das entrelinhas. Não que eu quisesse alcançar um status "proustiano", mas pelo menos almejava seguir alimentando estas minhas paredes. Procurei, procurei com gosto, até que finalmente encontrei um espinho.

Mas ô bichinho pra incomodar.

Vamos logo dando nome aos bois, aqui eu falo do tal do abuso. Olha que eu não sou de abusar muito, mas em relação a você, você e você, babes, ele é indomável. Abuso Mor. Daqueles que dá vontade de fazer carinha de nojinho - tudo no diminutivo mesmo - e bodejar algumas poucas palavrinhas que peguem mesmo nos seus calinhos, os quais eu conheço melhor do que eu gostaria. Felizmente, minha educação católica zen budista não permite.

Moral da história:
Se for pra falar disso, prefiro ficar sem escrever por mais um tempo. 

18.3.11

Tarde de Partida


O cenário parecia ter sido escolhido a dedo, uma verdadeira brincadeira de mau gosto. Era um sábado de um céu carrancudo, fantasiado de rosa-cinza, um dia molhado da cabeça aos pés. Parecia até abertura de um romance romântico barato. E foi nesse dia horroroso que a cidade chorou seu sumiço, junto comigo. Regamos sua morte com a ternura de quem viu o amor ganhar corpo, virar gente, virar dor, pó, um punhado de letras num papel.

Meu estômago já estava bem treinado para receber a novidade que você ainda insistia em me esconder. Para o seu conforto, continuava fantasiando de querer tudo em paz, de amar tanto. Mal sabia que, enquanto isso, eu lia todas as suas traições, relia suas mentiras, resignificava, observava seus olhos desviarem dos meus, assim, sem ensaio, sem arrodeios. Seu amor desviava de mim com uma pureza que chegava a ser uma coisa linda. Eu, já quase sem palco, assistia suas palavras morrerem todas no céu da boca. Sílabas, frases inteiras, entaladas na garganta. Olhar cansado. Suspiros prolongados. E, quando mais espero, lá se veio a declaração: não sei como te agradar. Queria tanto ter te escutado tão puro como quando seu amor escapava de mim. Talvez: não tenho mais como te agradar.

Seu corpo gelado, duro, sem o gingado de carinho e beijo no cangote. Eu, morta. Meiga, doce, mole, frágil, boneca, dependente. Naqueles minutos, eu era só aquele nó na garganta. Mesmo depois de tanto adestramento, eu era ácido no estômago. Amarelo na alma. Pé na cabeça. Mas, ainda assim, mulher. Decidida a seguir em frente, a amar sempre mais.


Mesmo que eu, apaixonante.
E você, desapaixonando.
Baby, c'mon. Até o próximo eu. 

8.1.11

eu e você, aos pingos

Entre palavras tortas e sorrisos enebriados, ele seguia, satisfeito com verdades incompletas e com a cabeça nas nuvens. Eu, sentada naquele chão imundo, rodeada de paredes rosas e lençóis amarelados, perseguida por um ventilador insistente, me sentia traída, cansada, ca-sa-da, lançada. Durante dias, assisti calada o amor evaporar aos pingos e barrancos. O que aconteceu com aquele menino que segurava a minha mão com a maior leveza do universo? Segurava. E, aqui e acolá, salpicava um doce. O menino sumiu. Fugiu. Cansou. Casou. Comigo, no escuro, na correria.

Pra viajar no feliz, comecei a lembrar da música, da cozinha vermelha, das noites recheadas de cerveja e conversas despretensiosas. Nada de teorizar demais, mas muito de viver de tanto. Intensamente. Até altas da madrugada. Aí senti saudade das brigas e do beijo afobado com o dia amanhecendo do lado de fora. De sentar no colo, de correr entre um novo amigo e outro. Entre aquela música e outra. Risos, bar ruim, novidade, arte, cerveja, teatro, bar bom, show, cinema, livros, contos, autores, atores, sorrisos, artistas, músicos, poetas.

No entanto, aqui estou eu, do seu lado, invisível.
Aqui, na minha.