10.5.09

Notas de viagem: dessa vez, em Salvador

1| a chuva
santa chuva? dessa vez, só muita chuva. o povo todo cansado do céu desabar e eu de mal com a água, ela não deixava o meu coração voltar pra mim. foram quatro horas assim: chuchu parado no trânsito, seguindo carro escolar, subindo calçada, inventando caminho. eu, assistindo tudo na telinha: não passa, tá tudo parado, o parque da cidade também, canal transbordou, dick também, caiu casa, morreu gente, era tudo jovem. mãe chorando, tia, irmã, prima, amiga, e a chuva, chorando, lavando. o povo de casaco, bota e cachecol no meio da rua, do shopping. sabe de uma coisa? cada vez, gosto mais dessa cidade. dessa gente de todo jeito. até inundada, com mar revolto e de roupa de frio, é uma boniteza de se ver.

2| o rato
encontramos o autor das caquinhas nojentas e das mini-mordidas nas bananas. o bichinho nem sabia, mas amanheceu o dia jurado de morte. sol chegou naquela terça-feira decidida, ia encontrar o "morcego". segundo ela, tinha pesquisado na internet e viu que quem gostava de fruta era morcego. com certeza, era morcego. mas no nosso caso, era um ratinho geração saúde, apreciador de frutas fresquinhas, bolachinha doce e macarrão integral. não mataram, mas levaram o pequeno numa caixa e soltaram na garagem. nesse mesmo dia, à noite, um barulhinho de patinhas pequenas e apressadas. nos entreolhamos. tu ouviu? ouvi. será que é o nosso ratinho? não sei, vou lá ver. e aí? é, não vi nada. vamos dormir, meu bem. dá um beijo aqui e te enrola em mim. deixa o ratinho comendo banana.

3| a inflamação
no DIA do show (ai, que chato). ele queria tanto ir pra esse. aí eu caio com febre, dor de garganta, dor de cabeça, moleza, vontade de afundar, o corpo palpitando. febre alta que passava e voltava. garganta que piorava e melhorava. resultado: casa, nada de reggae. ainda tentei, "vamos, meu bem. a febre passou. a gente aproveita que é só a garganta, passa um tempinho lá e volta logo". impossível, ficamos. mas ficamos super bem acompanhados, concurso miss brasil 2009. live from são paulo. divertidíssimo. e o plural de miss? é misses? "chuchu, sabe o que eu queria de verdade? sorvete". ele sai na chuva, diz que volta rapidinho e chega cheio de coisa. melzinho, spray pra garganta, pastilha que deixa dormente, termômetro e dois tipos de sorvete très chique. "é, só eu sei quanto amor eu guardei sem saber que era só pra você", deu vontade de cantar, mas minha voz é tão ruinzinha. ficou só no pensamento. a gente vai dormir e eu acordo chorando, dor. muita dor. ele me leva no hospital. cedinho. fala pro médico o que eu tava tomando, segura minha mão, cobre na hora da agulha, conta a história do leite, me beija sentado na cadeirinha e me leva pra casa. faz suco de laranja fresquinho, sanduíche de queijo, beijo e abraço. e assim, eu vou embora, mais apaixonada ainda pelo meu doidinho.