2.5.08

Desatando nós.

…you want her, you need her
and yet you don't believe her when
she says her love is dead
you think she needs you…


Ela conta, ele escuta.


Sabe? A manhã, até passa. Já a tarde, essa insiste na qualidade de ser rastejante. São horas na cama, alguns minutos em pé. É uma falta de vontade de comida, de piscina, de palavra. Uma dor de cabeça que diverte-se em perseguir. A verdade é que dói demais olhar e não enxergar nenhum sinal da minha presença no seu olhar, que era meu. Dói mais ainda ouvir a máquina de lavar funcionando, mas saber que não posso esperar a camisa quentinha e com cheiro de amaciante chegando no meu quarto, flutuando em direção à cama, para só então ser dobrada do jeito certo.

A tarde chega ao fim, aquela luz toda me abandona e, finalmente, a minha chance de falar aterrissa. Mesmo assim, eu, nada, calada, lá, babaca. Não é falta de vontade, como você adora insinuar. As palavras ficam rodando na minha boca, brincando de formar sentenças, enquanto eu vou cortando e colando, aí acabo transformando tudo em um grande emaranhado de falta de significado - para os outros, para você.

Ela tenta falar, mas parece tudo tão fantasiado de emoção. Fake!

Tudo que eu queria era te abraçar. Eu te disse que queria você por perto? Eu falei que quando estou com você quero continuar lá? Que me sinto completa quando sinto sua mão na minha?

Ele discursa, fala, fala, mas não a responde.
Já ela, responde, mas não o agrada. Ela nunca o agrada.


Não quero mesmo, é verdade, não gosto muito, mas posso esperar. Tenho algum tempo. Sei que andei por lugares confusos, mas não continue insistindo em me enlouquecer ainda mais. Basta. Deixa de lado essa mania feia. Eu estou pronta para a simplicidade. Topas o simples comigo? Vamos lá, vale a pena. Algumas coisas são o que são, como o que foi, foi e foi mesmo. Não esqueça que eu estava lá, sentada do seu lado, enquanto o mundo todo passava do outro. Eu querendo apenas continuar naquela cadeira. Você querendo me tocar e me ver chorar como nunca, um choro soluçado. Essa sua curiosidade mórbida é um lixo e esse seu desejo latente, mas visível nos seus traquejos alterados, perturbados, é doentio. Senti sua mão. Não só uma, mas duas vezes. Apenas por isso, vou continuar imaginando que, pelo menos durante aquele pedaço pequeno de tempo, você também quis mais uma vez a roupa limpa, cheirosa, o apartamento velho, a música nova e aquela aliança de antes.

Ele e ela decidem trocar de bar, de cidade, de mãos e de sonhos.

Um comentário:

Lia Sancho disse...

Rafa querida...
esse seu texto é muito claro e verdadeiro.
Parabens minha amiga!