27.12.06

Meu protagonista.

Ele não se aproximou aos poucos; foi logo assumindo o papel principal. Era alto, tinha uma projeção de voz incrível e uma presença de palco que a menina julgava inexistente. Foi fácil descobrir que ele era perfeito para o personagem de uma vida inteira, para o par romântico daquele roteiro com final feliz.

22.12.06

Só tenho dois minutos.

Ele sabia que ela tinha uma mania feia de derrubar tudo ao redor e queimar as pestanas com o isqueiro. Ela sabia que ele nunca ia conseguir decidir se queria mesmo o branco com o escudo tortoise. Eles se entendiam, a desastrada e o volúvel. Bateu uma saudade grande na menina e ela resolveu telefonar antes de dormir, só pra mandar o beijo que foi interrompido por falta de pagamento. Promessa de beijos enormes, saudade, falta só mais um pouquinho, força. A ligação também foi cortada, fim dos créditos. Depois da despedida truncada, ele voltou pra mesa e pra todas aquelas outras pessoas que ele nem fazia tanta questão de ter por perto naquele instante; queria mesmo era a menina que queima os cabelos quando vai fumar. Ela guardou o telefone dentro do tênis xadrez, ainda incompleta, virou de lado e fechou os olhos com o intuito de sonhar com o menino lá na praia. Acordou no dia seguinte, olhou pro lado direito esperando encontrar ele ali, sem camisa e com um pouco de dificuldade de respirar, uma esperança boba e típica de quem acaba de ter um sonho bom, mas nada, só a vela que queimou até o fim. Sozinha, naquela caixa de ângulos retos e pé direito alto demais, pensou: sou dele até mais do que eu normalmente julgo ser, incrível.