10.2.07

Conversas estranhas. Parte três.

- Porra! Esqueci meu isqueiro.
- Pede pra essa cara aí do lado que tá fumando.
- Com licença, pode me emprestar o isqueiro?
- Foda mesmo é saber que eu vou acordar amanhã sentindo essa mesma coisa de agora, esse nada, esse vazio, essa vontade de sentir algo diferente.
- Perdi o controle.
- Preciso sentir alguma coisa nova.
- Eu, na verdade, preciso é que ele faça um monte de coisa que ele nem imagina o quanto é essencial pra mim. O pior é que eu não posso falar o que preciso, ele tinha que saber. O que eu faço?
- Ele tá muito seguro.
- Podia me emprestar o isqueiro de novo? Obrigada mesmo.
- Muito seguro. Acho que amanhã vou vestir minha roupa mais foda.
- Colocar lápis preto no olho e ficar bonita.
- Me arranja um cigarro? Valeu.
- Vamos viajar? Tava pensando que a gente podia ir pra Dublin ou Helsinque. Sempre quis ir pra Helsinque, vi umas promoções na internet hoje.
- Quero sentir raiva, pelo menos já é alguma coisa nova pra sentir.
- Preciso da minha redenção logo. Mais um fino com groselha, por favor.
- Mais um fino comum pra mim, por favor.
- Porra, escuta a música que tá tocando. Ridículo, tão frescando com a minha cara.
- Não quero mais ser essa menina, a que só espera, conta os dias.
- O pior é que a gente não tem muita saída.
- Amanhã vai ser a mesma coisa, todo dia, toda hora, todo minuto.
- Tinha uma menina chorando na minha sala hoje, eu saí de perto.
- Já sei. A gente arranja um caso.
- Não adianta.
- Adianta. Não, você tá certa, não adianta.
- Eu gosto muito dele.
- E eu sou louca por ele. Tem mais cigarro?
- Não, acabou. Em casa tenho mais e tenho vodka também.
- Vamos embora então?
- Vamos, a pessoa que tá escolhendo as músicas tá adorando me ver sofrer. Eu vou quebrar a placa modem da internet quando chegar em casa, tá?
- Tá bom. Eu vou jogar o vidro de pasta de amendoim pela janela.
- Ótima idéia. Tem cinco euros?
- Tenho.
- Me dá. Com licença, vocês aceitam Visa?

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