20.3.10

19.3.10 | Dia de São José, padroeiro do Ceará.

Uma onda de calor maleducada invadiu minha casa, assim, sem convite. Trouxe com ela uma massa de ar quente, húmida, deixou o ar impossível de respirar. Por vários dias, me fez claustrofóbica, me fantasiou em tons de cinza. Do lado de lá, em pose de rainha de copas, quem ordenou que a massa de ar se deslocasse impiedosa em direção ao norte só tinha olhos para dias bonitos, um monte de sol, uma brisa que até parecia prenúncio de primavera. Celebrando o desprazer alheio, esqueceu: por bem ou por mal, toda frente quente não passa de uma zona de transição, um movimento, sempre em frente. Uma causadora de precipitações, que só acontece de vezenquando, de quandoemvez, e desliza inconsistente, participando da categoria dos delírios alucinados.

Graças a São José, hoje já choveu o suficiente para lavar até a calçada da minha casa de qualquer vestígio dos dias em desencanto. O inverno agora está garantido aqui no Nordeste. Enquanto escrevo, chove lá fora - e dentro de mim, orvalho. Amanhã, ainda meio enebriado, meu quintal acordará coroado, florido, verde, azul, botão, esbanjando bem-te-vis. O jardim inteiro, em fofos, sorrindo para mim, declamará em uníssono: “no mais, mesmo, da mesmice, sempre vem a novidade.”*

* O trecho entre aspas acima foi retirado de Luas-de-mel do livro Primeiras Estórias de João Guimarães Rosa.

"Eu não entendo, apenas sinto. Tenho medo de um dia entender, e deixar de sentir." c.f.a.

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