20.3.09

Do momento imóvel fez-se o drama.

O drama normalmente decide fazer-se presente quando está indo tudo bem, ou tudo lindo, como dizem por aí. No momento mais improvável, o problema ganha corpo, nome, idade, sexo, estado civil, endereço e, nos dias de hoje, até um perfil no orkut. Mas dessa vez, e pela primeira vez (ando passando por sérias reformas internas), eu decidi segurar as pontas, os lados, as linhas e entrelinhas. Engoli quase todas as mil perguntas, calei as inquietações infantis e lutei bravamente contra meus impulsos mais irracionais, mesmo que estes ainda continuem sendo, na minha opinião de boa libriana, os mais deliciosos.

(Abre parênteses)
Não há nada mais irresistível do que o momento de tensão preso entre o suspiro que segura uma palavra à outra, pronunciadas devagar e ao seu ouvido. Palavras que normalmente encontram-se imersas num diálogo onde não se dá atenção ao conteúdo mas apenas à movimentação dos corpos envolvidos. Dois seres que almejam a colisão.

O alfabeto torna-se responsável pelo destino dado a quase uma vida inteira. Onde eu enfio essa próxima letra? Deixo-a lá ou trago-a para dentro de mim? Se faço isso, ela irá viver sem ser pronunciada, sem cumprir sua função básica de palavra. Milhões de outras a seguirão a fim de insistir no impossível, explicar o motivo do mergulho, do êxtase.

Depois de escolher o caminho das palavras, depois de sugá-las com a força de quem deseja o choque, a triste descoberta é inevitavelmente feita: o que muitas delas significam para mim é cruelmente menos do que o que eu desejava. A partir daí, todas as sílabas pronunciadas, com ou sem cuidado, passam a ganhar mais força e importância que o abraço e o beijo. Ah, e como era bom, o beijo.

Pronto. A tragédia está instalada.
(Fecha parênteses)

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