14.10.10

duas vidas

ele e ela um dia acordaram e levaram um susto, não esperavam por isso. justo agora? que os filhos, já crescidos, haviam deixado os dois ali, no cantinho deles. e agora? eles não conseguiam acreditar, acordaram encarnados em dois velhos. haviam deixado o tempo passar assim, bestamente. sem o amor e sem um pingo de loucura. foram duas vidas inteiras no escuro. esperando apenas o dia acabar. só para começar outro e depois acabar de novo. eles nunca entenderam que essa existência só vale a pena quando se ama alguém muito, demais, lindamente. que toda dor só é suportável quando se ama com sorriso grande, com abraço e beijo beijado com gosto de beijo, com cafuné, cangote e pé com pé. viver é mesmo muito perigoso. viver é um segundo. mas o que será que eles dois fizeram com todos aqueles domingos? com tantas tardes ensolaradas, com os dias de céu azul bebê e todas as luas cheias? foram tolos e continuam abobalhados. andando por aí de olhos fechados, cegos, surdos, ansiosos por nem sabem o quê. deitados, noite após noite, um ali do lado do outro, mas sem a terra molhada. duros, estirados no seco, no mesmo, sem água, sem sol, em um abismo de coração. soluço: ei, você e você, amem! olhem no olho do outro, olhem de verdade, durante um sem fim de segundos, despidos de palavras. depois, sorriam, peguem na mão, sintam a textura, a pele, se beijem. namorem. se enamorem! que essa vida aqui só é bonita amando grande.


pequeno não vale.

4 comentários:

Bárbara disse...

que coisa mais linda. :*

Rafaela Leite disse...

brigada. :*

ana leite disse...

Tudo tão bem colocado!!! com verdade e leveza.
bj grande

Déa disse...

essa vida só é bonita amando grande. é verdade :)